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Em Portugal, o modelo económico-social e político tem dado resultados absolutamente caóticos e deprimentes. O que se passa em Portugal é, acima de tudo, um problema de liderança, que se baseia numa filosofia transacional entre o Governo e o cidadão, e, portanto, na funcionalidade filosófica e estratégica da relação líder-subordinado. Uma que parte de ambos, mas que o governo poderia contrapor, e realizar sob suas funções como um agente de mudança. Em Portugal há, acima de tudo, falta de liderança e espaço à liberdade do indivíduo em liderar - sem uma genuína visão transformacional - e, tanto como causa e consequência, pouco espaço para novos estilos de liderança. O ‘Estado da Nação’ sofre de um imensurável paternalismo, que implica constantemente um maior acréscimo nos impostos e faturas perante políticas sociais inconsequentes. À primeira vista, parecem apenas proteger a sólida transformação de um Estado português inabilitado. Sem mãos a medir, a estratégia governativa falha nos investimentos certos, seja em salários ou setores que produzam uma diferença real na qualidade de vida dos portugueses. Um exemplo básico capaz de concluir ajudar a compreender esta ideia, passa por ver e ler os debates anuais sobre o Estado da Nação, os temas que são discutidos e as crises que são revistas – são repetitivas e os temas não mudam ao longo dos anos. E isto não é devido a serem temas importantes, necessariamente pelo peso que a habitação, as pensões, a educação e a TAP têm para o Estado social e económico no país. Mas porque, o estado actual serve a uma filosofia presa no tempo, no passado, num partido, e/ou na falta de habilidade e espírito de mudança. Respetivamente, ao que aparenta, o saldo migratório jovem diminui – os jovens que antes desapareceram do país com a Troika, voltaram -, mas ninguém questiona se é porque a falta de riqueza suplementar do apoio das suas famílias na procura de uma vida lá fora também encurta, ou se há efetivamente uma necessidade conservadora de um imigrante jovem querer voltar para Portugal. Mas, por alguma razão estranha, que não se concebe ainda bem, não está de facto a ser cultivada. Algo que se torna bastante difícil de acreditar é na visão e priorização de valores e princípios que nos passam a nós portugueses, os nossos líderes. No entanto, quem considera que a vida efetivamente melhorou para os portugueses, muito provavelmente não entende a pobreza relativa em que o país caiu ao longo dos últimos anos. Existe, de facto, uma irregularidade e falta de afirmação sólida de que o governo português é confiável e capaz. Assim como as suas instituições políticas, especialmente contextualizadas numa crescente desordem ao nível internacional.

Um outro exemplo que explica a permanência no estado actual da Nação, passa pelo facto de que os partidos têm vindo a ser votados constantemente sob o pretexto do voto útil, seja contra extremismos, falta de opções, ou a falta de oportunidade destes provarem a sua razoabilidade e organização. Na verdade, as estratégias portuguesas estão focadas em resolver os problemas urgentes do presente, sem pesar o que vai sair nas contas futuras de todos os que desejam viver em Portugal no futuro, e os que se querem sentir a viver num Portugal com mais expectativa e menos ansiedade. Sem necessariamente falar da habitação, num outro pequeno vislumbre do Estado da Nação, surgem os seguintes subestados: (1) Os salários correspondem cada vez menos à realidade do preçário de arrendamentos, ao que acresce o comportamento da dívida por gerir, ou saldar, e a inflação que veio para ficar; (2) nos processos administrativos jurídicos ou de serviços gerais, que regulamentam e aperfeiçoam a entrada e assimilação social dos migrantes, e tentam melhorar a situação de registo civil, surgem gradualmente mais atrasos e demoras que colocam mais pressão e mais custos, presentes e futuros, sobre os funcionários públicos (sem sequer ter que mencionar a situação das pensões de setores públicos cruciais, como a saúde ou a educação); (3) a economia, se cresce, não compensa a inflação, assim como pouco ou nada aumenta a riqueza relativa dos cidadãos e suporta os aumentos do custo de vida; (4) o que possa acrescer de políticas sociais a colmatar problemas situacionais do presente, ainda assim não impede, e gera problemas sociais e administrativos futuros também mais avultados; (5) uma das enormes apostas do governo é o turismo, que já demonstrou não albergar uma diversificação de empresas e negócios a que muitos portugueses podiam concorrer; (6) no final de contas, o modelo de crescimento, que não se prevê ser alterado, aposta em mais comissões e áreas que exigem do próprio Estado retirar mais dinheiro dos bolsos dos portugueses. Para ajudar à compreensão de onde possa estar o problema, podemos constatar, num estudo do ISCTE, que, em última instância, atenta corretamente às crescentes irregularidades no processo migratório – que salvam a decrescente demografia ativa do país - e constantes desigualdades no mercado nacional da habitação. Deste estudo surgem várias recomendações de políticas. Das quais, um exemplo, é a criação de (mais uma) comissão. Neste caso, foi até defendida por um dos investigadores do Serviço de Defensores Públicos. Dentro dos semelhantes parâmetros do estilo estratégico nacional: em junho de 2022, no contexto da vindoura ajuda europeia e dos fundos para serem aplicados no PRR, teve de ser criada uma Comissão para acompanhar e avaliar o investimento municipal apoiado por fundos europeus; a seguir ao governo eleito ter-se o mais extenso e custoso de sempre, num dos seus inúmeros ministérios sai a ideia de criar, mais uma, “comissão de avaliação do regime jurídico das Instituições do Ensino Superior”, ao que surpreendentemente a justificação consegue-se compor de forma mais ostentosa e justificada para fortalecer as instituições de ensino superior e de I&D, “através de uma reflexão participada e aprofundada acerca do enquadramento legal e organizacional das instituições de ensino superior, bem como dos modos de promover uma maior participação e comunicação dentro das instituições de ensino superior e entre estas e as comunidades nas quais se inserem”; ao que se adiciona outro exemplo, na devida decisão que não se toma acerca do novo aeroporto, também foi, aí sim definida uma Comissão Técnica Independente, para coordenar um projecto que ainda não começou, e que já leva mais de dois anos.

Parece que a resposta que paira no ar em Portugal é da criação de mais uma área de desenvolvimento, em que o Estado decora e gere o dinheiro público das pessoas. O que se sugere é que a inconstância tem vindo a ser uma constante desde o governo de Sócrates. Há um problema a solucionar? A estratégia que surge vai passar a ser quase sempre solucionada por confiar no governo. “Soluções técnicas” nada transformacionais da mentalidade portuguesa, e nada abertas ao cidadão por si cabe transformar. O que se cultivou em Portugal, e resplandece à vista de todos nós, atualmente, é a incomensurável procura de consolo paternal. Existe uma ínfima ideia de que reformas cirúrgicas nos departamentos existentes, ou uma reforma geral na estratégia nacional, que lide com a dívida e subserviente vida de todos os portugueses, possa talvez ser a melhor via de sair da década mais deprimente desde Abril de 1974. O que dizer de um país com um Executivo, que se mentaliza e mentaliza o povo, de que o seu processo de liderança passa única e exclusivamente por si, e é substancialmente diferente em resgatar mais dinheiro do cidadão e usá-lo na fossa dos estrategos que pouco ou nada solucionam. Em que, sucessivamente,exigem mais de uma população crescentemente mais pobre e mais idosa, ainda mais dependente do agente central estratégico falhado, e ainda se propõem a fundamentar mais dependência e confiança nos seus falhados estrategas. Na dimensão paralela chama e proclama fundos europeus, a adicionar à estratégia do turismo e de salvação de recursos de fora do país, que, ao que se vê, afundam ainda mais o país em dívida. Há mais razões para desacoplar os portugueses desta cultura política?

Portugal enfrenta problemas sérios relacionados com o seu futuro. E, devido aos seus líderes, que transformam o Estado numa entidade voltada para si mesma, inteiramente objetivada a gerir ou tapar crises a curto prazo. Talvez, fosse preferível libertar os portugueses a resolver as crises que eles mesmos enfrentam e conhecem muito melhor, porque as vivem diariamente. É puramente uma preferência entre transacionar ou dar ultimamente espaço a uma transformação social do cidadão português do século XXI.

Artigo escrito com o antigo acordo ortográfico