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Nota: O artigo foi escrito antes da visita do Presidente, que vai ser abordada na próxima edição.

A visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Portugal será sem dúvida um marco para a história dos dois países. Isto, pois a última cimeira Luso-Brasileira ocorreu em 2016, ano em que se sucedeu o Impeachment de Dilma Rousseff. Lula é um velho conhecido do governo Português tendo já realizado outras visitas a Portugal. Contudo, a sua visita a Portugal em Abril poderá ter implicações ainda mais significativas para as relações Brasil-Portugal. A visita é uma oportunidade crítica para os dois países se empenharem no diálogo e na cooperação, particularmente nas esferas económica e política. Contudo, não deixa de ter as suas diversas controvérsias.

Com Portugal a enfrentar dificuldades financeiras dentro da zona euro, a economia brasileira continua a crescer, proporcionando oportunidades de comércio, investimento e intercâmbio tecnológico. Além disso, a substancial população de imigrantes brasileiros em Portugal e os laços culturais e linguísticos tornam essa visita ainda mais icónica. Por conseguinte, a visita de Lula é essencial para reforçar a ligação entre os dois nações, promovendo o crescimento económico e social e reforçando a cooperação a nível regional e internacional questões.

Durante a visita de Lula a Portugal em Abril, espera-se a realização de várias reuniões e eventos. A agenda inclui reuniões com funcionários do governo português, líderes empresariais e representantes da comunidade académica. As discussões centrar-se-ão provavelmente no reforço dos laços bilaterais entre o Brasil e Portugal, na promoção do comércio e no desenvolvimento de parcerias em vários sectores, incluindo o da energia, agricultura e turismo.

Além disso, Lula está agendado para fazer vários discursos públicos, incluindo no Instituto Superior Técnico (IST) em Lisboa, que provavelmente abordará temas de justiça social, democracia e desenvolvimento sustentável. Os resultados esperados da visita incluem uma maior colaboração e investimento entre o Brasil e Portugal e maior exposição da cultura, economia e inovações de ambos os países. Além disso, a visita de Lula é suscetível de fortalecer relações entre os dois países e promover a integração regional no contexto dos desafios globais.

Apesar da excitação em torno da próxima visita de Lula a Portugal, há críticas e oposição à sua visita. Alguns argumentam que a sua condenação por corrupção o torna inapto para ser um convidado de honra noutra país. Outros acreditam que as políticas e acções de Lula durante a sua presidência foram prejudiciais para o Brasil e a sua economia, não merecendo reconhecimento ou elogios.

Este é o caso de André Ventura, líder do partido CHEGA (CH), que considera a visita de Lula a Portugal como “ultrajante” e que o “lugar de ladrão é na prisão”. Um posicionamento claro ao desafeto ideológico que existe entre o líder da terceira força política em Portugal e o presidente brasileiro. Também a Iniciativa Liberal (IL), liderada agora por Rui Rocha, após vencer as eleições no partido e substituir João Cotrim Figueiredo, ameaçaram abandonar o parlamento caso o Lula discursasse na sessão solene que marca esta data histórica para o país.

Lula da Silva e Xi Jinping, em Pequim. Fotografia: Palácio do Planalto, via Wikimedia Commons

Outro fator que pode potencialmente prejudicar a visita do presidente brasileiro é a sua recente posição sobre o Invasão Russa à Ucrânia. Portugal é um membro da União Europeia, que impôs sanções económicas à Rússia devido ao seu envolvimento no conflito. Lula, como presidente do Brasil, criticou publicamente estas sanções e tem apoiado as acções da Rússia na Ucrânia. Durante uma reunião bilateral em janeiro realizada em Brasília com o Chanceler Alemão Olaf Scholz, Lula afirmou que “quando um não quer, os dois não brigam”, referindo-se à guerra na Ucrânia. Esta posição não foi bem vista nos meios de comunicação europeus nem junto dos seus aliados no velho continente.

Durante visita recente à China, Lula disse que “é preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra” e que é preciso que “a União Europeia comece a falar em paz para que possam convencer Putin e Zelensky de que a paz interessa a todo o mundo”. Esta posição foi duramente criticada pelo veículo de informação americano “The Washington Post” que afirmou que o presidente Joe Biden esperava encontrar em Lula “um aliado”, mas que o presidente brasileiro “tem os seus próprios planos em mente”.

Joe Biden a receber Lula da Silva, em Washington D.C. Fotografia: Adam Schultz, Casa Branca, via Wikimedia Commons

Por conseguinte, a posição de Lula sobre esta questão pode causar tensão durante a sua visita a Portugal e pode mesmo levar a protestos ou a reacções públicas. Além disso, a sua posição pode também afectar relações diplomáticas entre o Brasil e outros países europeus que tomaram uma posição mais forte contra a agressão russa na Ucrânia.

Em conclusão, espera-se que a visita de Lula a Portugal em Abril tenha um impacto significativo na relação luso-brasileira. A visita surge num momento crítico em que o Brasil está a atravessar um período importante de mudanças na sua conjuntura política e económica, e Portugal está à procura de novas oportunidades de expansão das suas parcerias comerciais e de investimento. Contudo, a sua recente visita à China e posição face ao conflito na Ucrânia pode ter causado uma instabilidade internacional da qual Lula não necessitava neste momento. O jogo de Xadrez realizado pela diplomacia e governo Português em receber um de seus aliados mais antigos face a esses recentes acontecimentos será algo para se observar após o dia 26 de Abril.