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A espionagem nunca desapareceu. Os casos de suspeita, que andámos a espreitar nas notícias este mês, trazem- nos sugestões do que poderá ser o futuro da guerra híbrida, entre as grandes potências, e, portanto, de que países, neste caso, se vão aventurar e arriscar a ser expostos pelas escolhas aliadas. O mais relevante, ainda assim, é estudar a forma e o conteúdo das reações dos Estados a estes incidentes, pois serão essas que nos indicam a postura e estrutura institucional e racional quanto ao lidar com estes episódios.


O, ou os balões de espionagem e outras inovadoras armas de espionagem (assim se profere), vieram dar novas formas às guerras híbridas e em que espaços poderão voltar a consignar-se, com o toque especial da potência estabelecida, a China. E a reação esperada da administração americana, em conformidade com imensa desconfiança neste período histórico em que reina a incerteza, interpreta e traz ao público os acontecimentos com esforçada bonança, mas enfraquecida pela gradual desordem internacional. O facto destes objectos ainda não terem sido identificados é preocupante para os EUA, sobretudo pelo facto de ter sobrevoado o seu espaço aéreo e território. Factualmente, se esta não é uma demonstração de força e confrontação por parte de Pequim, então o critério com que lemos os acontecimentos perde-se.

Institucionalmente questionemo-nos quão confusa e desordeira anda a política interna nos EUA, e, por sua vez, como é que isso se reflecte nas diferentes abordagens perante certos tópicos com o rival.

Porque sai nos órgãos de comunicação e são declarados agora, no mês de Fevereiro, que o secretário Antony Blinken estaria calendarizado a visitar Pequim?

O que levou a administração Trump a lidar com o assunto de outros modos, e será mesmo que podemos assumir que Donald Trump não foi informado, ou, que, sob a sua administração Washington ainda não era totalmente capaz de detectar estes aparelhos?

Aparentemente, caso as agências de inteligência americanas diligenciarem e adaptarem os radares, como fizeram, a procurar objectos mais pequenos, os EUA poderão produzir tomadas de decisão e seguir as pegadas da União Soviética quando a história era outra em 1956, ou seguir, por outro lado, o rumo da cautela e não seguirem qualquer frenesim costume dos canais de comunicação. Por estas razões, a doutrina americana parece, mesmo assim, ter sofrido alguma turbulência. As distintas reações das várias instituições americanas, são por vezes típicas, mas não tão habituais quanto a casos que põem em causa a segurança doméstica, e muito menos quando a Presidência demorou a libertar informação. Portanto, o arrastar da situação pode tanto definir dificuldades internas em tomar decisões executivas, como, quando se pondera o abate destes objectos.


Concomitantemente, a decisão pode seguir uma filosofia de serenidade, característica da liderança de Joe Biden e da sua equipa, em conformidade com o Secretário da Defesa americano e Segurança Nacional, eventualmente por terem decidido estrategicamente esperar que este balão atravessasse o país de uma ponta à outra, por razões estratégicas óbvias para se informarem quanto aos padrões de movimento, e quão eficazes são estes aparelhos na recolha de informação.

Sede do Ministério de Segurança Pública da República Popular da China. Fotografia: Wikimedia Commons

Estes balões conseguem ser controlados e manuseados, e por suposição das análises oficiais feitas, carregam equipamentos de colecta de informação, que, comparativamente com satélites espaciais, não são igualmente precisos, por estarem mais perto do solo. Talvez, no caso de possuírem uma função meteorológica, conforme foi esclarecido pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros da China numa declaração feita ainda esta semana, o que impressionou de facto a maior parte dos jornalistas americanos, dos civis e dos oficiais do Estado foi a dimensão e contínua navegação linear, após ter sido detectado.

O facto de terem sido detectados, alguns, desde a sua partida da Ásia Oriental, e seguidos desde o lançamento transmite- nos algum padrão na atitude propositada no esforço sereno americano perante esta situação para com a protecção e defesa nacional, mas pode ter sido apenas um caso raro, que de facto não sucedeu com os restantes objectos detectados ao longo da América do Norte. Estes últimos foram destruídos pelas defesas americanas, pouca informação foi publicada e muito menor foi a paciência e curta a avaliação de como agir.

Joe Biden e Xi Jinping antes da cimeira do G20 de 2022. Fotografia: Wikimedia Commons
ma aeronave americana U2 voa perto de um balão de espionagem chinês. Fotografia: Wikimedia Commons

Qual a narrativa, na hipótese de haver uma, que o governo chinês pretende construir a partir daqui, e vice-versa? Esta vai ser uma das mais relevantes questões sobre este tema. Na eventualidade de casos de espionagem serem descobertos, o que decorre daí na consequência de justificar estes incidentes. Consequentemente, será a narrativa e a adaptação discursiva, que ambos os lados vão ser obrigados a renunciar e comportar, igualmente na transmissão de conclusões, de dentro para fora (ao público), que realmente nos dirá o que se está a passar.


A verdade é que, do lado chinês perceciona-se relativa paciência e menos renúncia aos princípios base do seu cariz sereno e unitário, que, comparativamente do lado americano não se revelou, o medo e insegurança anda gradualmente a ser transferido de um polo para o outro. A razão? A desordem gradual nas relações internacionais e domésticas americanas.