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Uma mulher brilhante, ardilosa, calculista e obcecada não só pelo desafio mas pela vitória, protagoniza este filme intenso, inteligente e mais realista do que seria confortável admitir.

Miss Sloane conta a história de uma lobista implacável com uma reputação feroz entre os senadores do congresso dos Estados Unidos, sendo temida pelo capitólio. Madeline Elizabeth Sloane decide defender a aprovação da lei de controle de armas Heaton-Harris.


Para isso, ela sai da agência para a qual trabalhou durante 11 anos e leva metade da sua equipa para uma agência menor e menos renomada, mas que defende a aprovação dessa legislação federal que propõe a verificação universal de antecedentes em todas as vendas de armas de fogo.

Elizabeth faz inimigos poderosos, mas enfrenta-os com base na sua estratégia de previsão. Ela aposta sempre no elemento surpresa, não apenas para os seus inimigos mas para os próprios membros de sua equipe. Não trabalhando sozinha,nunca partilha inteiramente o que é necessário para atingir o objetivo final, de forma que a metáfora que melhor a define é uma “parede de granito”.

Ao longo do filme são colocadas questões éticas e morais. É ressaltada a importância da massa crítica e da participação das mulheres na vida política enquanto são debatidas questões de segurança, liberdade e limites. Com o decorrer da narrativa, o mais evidente é a ferocidade do jogo político e o quanto o sistema é poroso e “podre” frente a lobbies tão ricos e influentes quanto o lobby das armas, e a políticos que recorrem à manipulação para manter as suas posições, sem alguma vez defenderem o interesse público por convicção.

A questão da convicção está muito presente em toda a história, ao mesmo tempo que o jogo de poder parece ignorá-la. Para ser capaz de lidar com toda a pressão, a personagem principal apresenta-se quase como uma máquina, não compelida pela moralidade, sem fraquezas, com alguns momentos de humanidade, mas sempre capaz sacrificar o que for necessário pela causa. Por isso, é sendo inquirida pela comissão de Ética do Senado que o filme começa e acaba com uma linha temporal flutuante que conta a história que a levou a ser investigada.

Defendo que este filme deveria estar na lista de qualquer um interessado em política. É um choque de realidade revitalizante que nos é apresentado juntamente com o debate de questões críticas e atuais que inquietam a nossa sociedade. Um filme de política, persuasão, influência, manipulação e opinião pública que faz-nos refletir sobre a deterioração dos sistemas políticos e sobre o que é preciso para enfrentá-los. Na perspetiva de Sloane isto implica abdicar de quase toda sensibilidade e empatia, mesmo que ela própria admita que a humanidade das nossas ações prevalece quase inevitavelmente. Esta longa-metragem é quase pedagógica para aqueles que mantêm um interesse na carreira política, mantendo uma abordagem muito crua aos aspetos mais difíceis desse caminho.