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Seria tolo exercício voltar a realçar as evidências que o Sr. Mexia, o Sr. Feio ou a Dra. Ferreira Alves já fizeram notar nos seus devidos espaços. A discussão das distantes presidenciais neste tempo, embora a história de facto mostre ser praxe, afasta a Nação da discussão de tópicos mais estruturais e relevantes para o presente e para um futuro sustentável, o que por certo, causa uma certa satisfação a sua notabilidade, o Sr. Primeiro-ministro. Todavia, e seguindo o exemplo dos insignes referidos, não podia deixar de propor a reflexão sobre os candidatos putativos que se apresentam e o peso, provavelmente profundo, que essa eleição terá na realidade nacional.

Primeiramente, é necessário ter em mente o cenário político que creio ser o mais provável, e não sendo conhecedor das artes do oculto, este naturalmente está sujeito a notável equívoco.


Fotografia: Gov.pl, via Wikimedia Commons

Com substancial probabilidade, a situação económica não melhorará nos próximos anos e em algum pessimismo tendo a crer que, ausente de governo hábil, a Pátria continuará no seu caminho de decadência. O eleitorado fustigado terá tendência ao voto de protesto ou à alternativa radical na ausência de figuras agregadoras ao centro, que, caso não se deva a miopia própria, suspeito que ninguém as veja. Neste cenário, a Assembleia que o próximo Sr. Presidente terá de se relacionar, será particularmente atomizada e de difíceis arranjos. De Bruxelas os auxílios começarão a ficar escassos e dado à inutilização do PRR não me parece que alguma mudança visível seja feita no tecido productivo, e o Estado-social continuará na sua marcha fatal. O futuro Presidente estará ao leme de uma situação algo precária e de tendicial ruptura de laços sociais, e, caso soluções executivas se apresentem de difícil construção, recairá sobre este a função ecuménica interpartidária.

Inicialmente, é de minha crença que o nome do Eng. Guterres deva ser afastado, dado que o seu mandato na ONU acaba depois das eleições presidenciais, o que levará o mais feroz dos críticos a crer que as Nações Unidas têm uma real utilidade. Da mesma forma, o Sr. Governador do Banco de Portugal não me suspeita interessado à presidência, assim como oro aos céus que o Dr. Durão Barroso evite em consciência ocupar qualquer cargo de dignidade em Portugal, depois de ter atraiçoado em oportunismo a sua Nação por uma cadeira maior. Do PCP é expectável algum nascido burguês que represente o proletariado, do Bloco e da sua versão um beijo, a IL, quiçá surjam mais dois nomes mas não é plausível que nenhum destes consiga passar à segunda volta, assim como os “candidatos de Rãs” que se apresentem. Dos nomes sonantes, com enorme pesar da minha parte, não me parece de acordo com a verdade acreditar numa possível vitória do Dr. Paulo Portas, cuja sagacidade, educação e gravidade seriam inequivocamente bem-vindas ao Palácio de Belém, mas, dado que nomes sociais-democratas já foram apresentados e tal requereria uma frente unida das direitas, temo que seja um nome a descartar.


Da área do PS, ainda apenas considerando os nomes improváveis de passagem à segunda volta, a Dra. Ana Gomes poderá forçar pela segunda vez a sua candidatura, mas, segundo oiço, enquanto sua notabilidade ocupar o governo é de dúvida plena que o PS declare suporte, e, assim sendo, não caberia à razão a recandidatura com o risco de ser ultrapassada nas intenções de voto pelo Dr. André Ventura ou pelo candidato do espaço político do Chega. O Dr. Francisco Assis é um nome absurdo e, embora tenha bastante afecção pela figura de Santana Lopes e assim penso ser na generalidade da população, matuto que o comentário político mediático iria ser excessivamente arrasador e penalizador nas contas finais. Embora guarde cautela quanto a possibilidade deste nome passar a uma segunda fase, caso campanha e debates corram bem. No entanto, não aplico a mesma reserva ao Dr. Paulo Portas por desconfiar se tratar de um candidato de certo nicho populacional, menor que outros nomes sugeridos, e difícil de ultrapassar na existência de tanta concorrência.

Em possíveis candidatos à segunda volta, e principiando pelo nome mais certo, temos aquele que foi apelidado por Araújo Pereira como o “anão da SIC” , e que tal atentado à fisionomia, eu seria incapaz de reproduzir.

Embora tal qual Bugalho a Portas, o Dr. Marques Mendes siga cautelosamente os passos de sua excelência, o Sr. Presidente da República, pelo que me é dado a conhecer entre jantares e caçadas, é descrito como uma figura fraca, ausente de gravidade e autoridade, com um carisma enfezado, uma astúcia reduzida e cujo legado se resume ao fracasso. As descrições doces, se é possível de se crer, o que juntando ao visível presente no espaço público me leva cogitar que em debate facilmente seria ultrapassado, a ter certezas da incapacidade de execução das funções próprias da magistratura a que se candidata e a duvidar que face- a-face com o plausível candidato da esquerda, salvo seja por alguma bizarra ocorrência um radical, que tenha reais possibilidades de vitória, sobretudo sendo que já de partida conta com a inimizade de uma considerável proporção dos votos, os do Chega. Do Chega, embora não seja certo, na ausência de uma candidatura do Dr. Passos Coelho ou de uma candidatura agregadora do Almirante Gouveia e Melo, é de se ponderar a possibilidade do Dr. Ventura se reapresentar a votos, podendo efectivamente, se os votos à direita forem algo partidos, o que não é expectável no eleitorado do Chega, chegar a uma segunda volta.


Fotografia: João Pedro Correia, via Wikimedia Commons

Tendo naturalmente em mente, que, o candidato que concorrer contra, sem grande margem para dúvidas, será o próximo Presidente da República. Ainda na direita política, onde note-se inclui o Dr. Marques Mendes por cortesia, o nome de Pedro Passos Coelho é sabidamente desejado e, creio eu, a única possibilidade real de eleição de um presidente político não socialista (mantendo a reserva em Santana), por certo unificando a direita política, e por sabido mérito sendo um nome forte para assegurar uma boa governação nos anos de mandato sobre a sua atenção, recordando que é provável se tratarem de tempos complexos e ansiosos por um moderador afável.

Do outro lado do espectro, recordando que sua notabilidade, o Sr. Primeiro- ministro, referiu no longínquo 2015 o nome do Dr. António Vitorino, actualmente disponível e com um currículo nacional e internacional respeitável, e que embora não seja do conhecimento do grande público ainda há tempo para se fazer conhecer as massas, o nome mais provável é do destacado, Sr. Presidente da Assembleia da República. Não livre de algum temor concebo que seja o nome mais forte colocado em cima da mesa para as próximas presidenciais, afinal de contas detém um vasto e recto currículo passando de uns partidos para os outros, estando lado a lado com o Eng. Sócrates e deixando esse enorme legado em todos os ministérios onde passou, tão grande e vasto que até hoje escusa menção em todo e qualquer jornal. Logicamente, uma vitória do Dr. Santos Silva se traduziria numa complicação desnecessária naquilo que pudesse vir a ser o arranjo político pós legislativas 2026, sendo fácil de imaginar a intransigência que teria com possibilidades governativas com o Chega, além de que é de minha suspeita que a eleição de tal sinistra figura iria desencadear ou facilitar processos kafkianos contra o partido de André Ventura.


Do mais, as posições do Sr. Presidente da A.R. em relação a toda a direita, mesmo a dita moderada, são conhecidas e resumidas na sua icónica frase “gosto é de malhar na direita”, que a elegância e eloquência, devo confessar, até me faz reconsiderar o sentido de voto. Receio que a coexistência de tal presidência com um governo de direita, provavelmente frágil, acabe num conflito institucional favorecedor de interesses alheios a Nação. No cenário de um governo socialista a conformidade seria tamanha que o pouco bom funcionamento que resta das instituições seria colocado na lista de candidaturas à eutánasia. Seria um presidente bélico, pouco consensual e fracamente longínquo da dignidade que o cargo requer e é com imensa mágoa que arrisco dizer que, caso realmente se candidate, é um certo na segunda volta e um quase certo vencedor das eleições.

Por fim, o Almirante Gouveia e Melo. Apesar do levantar de críticas sobre o desconhecimento das posições políticas do Almirante, uma figura serena e de autoridade, reconhecida pelos cidadãos como eficiente e discreta podia retornar algum prestígio e sensação de segurança às instituições.

Com a apresentação de uma candidatura de serenidade, de moderação e de virtude suspeito que o Almirante encontre uma real possibilidade de eleição, sobretudo superando o espectro partidário e podendo ser uma figura de união em tempos polarizadores, tendo ainda a seu favor a carga da disciplina conotado com os militares que na eleição podia ser apresentada como regradora de forças mais radicais e descansar partes mais ansiosas da população quanto a determinadas hipotéticas coligações. O desconhecimento das suas posições facilmente poderia ser colmatado em debate e no período de campanha, não me suspeitando vir a ser o entrave que impediria a eleição. No que diz respeito ao questionamento por este ser um militar, é claramente um pensamento de República nova, se o regime de abril é para se eternizar, o que não é, mas suponhamos, existiram eventualidades históricas em que os militares terão conquistado valor para exercer funções políticas como ocorre e ocorreu em tantas e estabelecidas repúblicas. Notoriamente, a dificuldade inicial de tal candidatura seria uma base fixa num primeiro momento, sobretudo tendo em conta que com o afastamento dos tempos da pandemia a fama do Almirante iniciou um processo de degradação.


Não posso deixar de salientar, que foi me apresentada a hipótese de a hipotética candidatura ter sido um meio para forçar a atribuição do cargo que agora ocupa e que realmente não é plausível a candidatura presidencial. Em nota, ainda deixo a minha descrença pela candidatura do Sr. Primeiro-ministro à Presidência, não concebo como em tempos tão incertos não seria uma enorme imprudência, devendo fazer aquilo que o Prof. Cavaco Silva não soube, e aguardar um termo para depois sim se candidatar.

Em suma, embora pelas minhas contas necessitemos de um presidente consensual, agregador e diplomático para a plausível instabilidade política que se aproxima, o mais certo, se a direita não encontrar uma figura de união, é acabarmos com um Presidente belicista dado a excessos e temo, causador de uma enorme instabilidade nacional. Em responsabilidade até o próprio PS, deveria optar por um nome mais correcto que Augusto Santos Silva ou, em conjunto com o PSD, a bem da democracia, encontrar um nome mais melodioso a todos. Pode ser que o tempo me prove errado, mas de momento se a figura do Almirante não avançar ou se o Dr. Passos Coelho não regressar, prevejo que não tarda, de um lado haverá uma luxúria a “malhar na direita” e no outro, um perigoso sentimento de incompreensão e injustiça pelo estado das coisas.