Para variar um pouco das habituais reviews de álbuns que tenho trazido, decidi, nesta presente edição, privilegiar a frescura dos mais interessantes lançamentos que estão a marcar este mês, sem ligar a elitismos ou classicismos, apresentando uma agradável panóplia de ecletismo musical ao seu mais alto nível. Por ordem de preferência, estes foram, para mim, os cinco melhores e mais recentes lançamentos:

5. Sleaford Mods — “UK Grim”

“Se o novo álbum dos Sleaford Mods está em quinto, o que é que eu perdi?” - interrogou o habitual leitor da secção musical desta revista. Já lá vamos, mas sem antes falar de mais um sólido marco de um dos mais influentes duos do Alternativo Britânico.

A utilização de uma agressiva crítica mordaz e pós-pandemista, carregada de um praguejar a la nationalité britannique, alinhada com o multi-instrumentismo minimalista característico do duo, transmite uma crueza poética tão imponente, que facilmente torna esta obra acessível a qualquer ouvinte de um Hip Hop mais requintado a nível de influências e de sensibilidade, particularmente daquele que leva, de frente, o Post-Punk.

Sem margem para dúvidas, é o lançamento mais popular deste conjunto que reuni. Afinal de contas: “This is UK Grim.”

Especial atenção: “Force 10 From Navarone” (3ª faixa)

4. Lia Kohl - “The Ceiling Reposes”

Sempre interpretei o Avant-Garde Musical como uma precisão da imprecisão controlada. Uma terra onde os “acasos” não existem. Em vez disso, falo de pinceladas que, sob uma análise de detalhada intromissão, nos dão a conhecer a verdadeira magnitude do desconhecido. Neste caso, do Ambient Experimental da desconhecida Lia Kohl.

Estaria a mentir se não dissesse que fui etereamente transportado de volta para os felizes finais de tarde novembristas que passei no Festival Mucho Flow, em 2022, ao som de Slauson Malone, dada a similaridade entre o violoncelo ternurento que legitimava a sinceridade daquele reluzente projeto de Avant- Garde, e o de Lia Kohl, mais concertado ao agradável Experimentalismo Lo-Fi.

É isso, “agradável.” É uma boa palavra para definir este achado.

Especial atenção: “Sit on the floor and wait for storms” (2ª faixa)

3. Judiciary - “Flesh + Blood”

Sobressair dentro de subgéneros tão populares e com tanta concorrência como o Crossover Thrash ou Metalcore, não é tarefa fácil. Mas os Judiciary conseguiram demonstrar que, ao contrair habilidosamente todos os pega- monstros inimagináveis, é possível construir um sucessor legítimo a um álbum de estreia que, por si só, já era bastante satisfatório.

Como é que o fizeram? Bem, com shredding constante, breakdowns de torcer o pescoço, vocais adequados à sonoridade da banda, e acima de tudo, muita consistência, sem espaço para pontos fracos ou momentos menos memoráveis.

Esta meia hora de ataque total, a dar tudo o que há para dar, sem arrependimentos ou convicções passageiras, é mais uma prova de que, com esta banda do West Texas, podemos começar a ter expectativas elevadas.

Especial atenção: “Blood” (2ª faixa)

2. Azar Azar - “Cosmic Drops”

Eu sei, ainda estás a recuperar do beatdown que levaste do último álbum. Mas deixa-me dizer-te que tenho o remédio perfeito para lidar adequadamente com essa ressaca musical. Este remédio é tão eficaz que, por uma unha negra, não ficou em primeiro lugar neste segmento de lançamentos. Refiro-me ao Jazz Fusion colorido e ameno do Azar Azar, uma simbiose tropical onde quem reina é o surrealismo migado, a amizade melancólica, o voyeurismo policromático.

Desde o “Aileron” (2020) dos lisboetas Yakuza, diria que este é provavelmente um dos meus lançamentos nacionais preferidos, dentro ou fora do Jazz. That’s how good this is.

Especial atenção: “Moving in Outer Space” (7ª faixa)

1. MSPaint - “Post- American”

Criativo, selvagem e futurista. Este é o grande “vencedor” desta edição (ler com voz de apresentador do Festival da Canção de 1989).

Além de ser um surpreendente álbum de estreia de uma banda relativamente pouco conhecida, é um autêntico assalto à mão armada que desvirtua qualquer conceção antecedente. O equilíbrio perfeito entre as influências do Noise Rock de Lightning Bolt, do Hardcore Digital de Machine Girl, do Hip Hop de Beastie Boys e do Hardcore Melódico dos Turnstile, levaram-me a um incontestável desconforto preposicional que aboliu, por completo, todo o meu entendimento de divisão de estilos e subgéneros. O tudo e o nada podem coexistir, não só no mesmo universo, como na mesma sala de atuação, e para quem está habituado a compartimentalizar o seu conhecimento por caixas, rapidamente se sentirá figurativamente raptado por este álbum.

Acredito que ainda vamos ouvir falar, e muito, do incrível trabalho desta banda.

Especial atenção: “Information” (1ª faixa)