FIFA 23: Indonésia e o Caso Israelo-Palestiniano
Quando se trata do processo de escolha de países para sediar o evento do Mundial do Futebol, a FIFA – organização que comanda o futebol a nível mundial e é responsável pela organização do campeonato – leva em consideração vários fatores, nomeadamente a infraestrutura disponível, a segurança, a estabilidade política bem como outros fatores relevantes. Contudo, note-se que a FIFA também pode retirar os direitos da organização do país anfitrião se considerar que os critérios estabelecidos não estão a ser cumpridos pelo mesmo. É precisamente sobre este último ponto que este artigo se irá focar.
No caso específico da Indonésia, houve rumores de que a FIFA estaria a ponderar remover o país como anfitrião do Campeonato do Mundo de Futebol Sub-20, que irá decorrer entre 20 de maio e 11 de junho de 2023, devido à posição do país em relação a Israel e à Palestina. Recorde-se que a Indonésia tem sido historicamente favorável aos palestinianos e se opõe à ocupação israelita da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
De modo introdutório, importa mencionar a posição da Indonésia face a Israel e à Palestina. Dito de outro modo, em que ponto se situa a Indonésia no conflito Israelo-Palestiniano? A Indonésia é a maior nação muçulmana do mundo e tem apoiado a causa palestina historicamente. O país tem sido crítico das políticas israelitas em relação aos palestinianos e defende a criação de um estado palestiniano independente e viável. A Indonésia é membro da Organização para a Cooperação Islâmica, que apoia a causa palestiniana e a busca por um acordo de paz justo e duradouro no Médio Oriente. Não obstante, importa referir que a Indonésia não mantém relações diplomáticas com Israel, visto que também apoia todas as resoluções das Nações Unidas que condenam as políticas israelitas em relação aos palestinianos. Tal como fora mencionado anteriormente, o país tem sido um forte defensor da criação de um estado palestiniano independente e do reconhecimento da Palestina como um estado soberano. A posição da Indonésia é amplamente apoiada por diversos países muçulmanos que também pedem o reconhecimento dos direitos palestinianos e o fim da ocupação israelita.
Toda esta situação escalou quando, no mês passado, a FIFA retirou à Indonésia a organização do Mundial de Futebol de sub-20, após ter sido questionada a participação de Israel na prova, através da carta enviada pelo governador de Bali, Wayan Koster, na qual se opunha à participação de Israel e que teve como consequência o cancelamento do sorteio da fase de grupos pela FIFA, o que gerou uma grande polémica, principalmente pelo facto de ter sido a primeira vez que Israel se qualifica para o Campeonato do Mundo neste escalão. Muitos consideraram esta ação como uma mixórdia inadequada de política e futebol, bem como uma violação dos princípios desportivos.
Esta questão levou a que em março deste mesmo ano ocorressem protestos em Jakarta (capital da Indonésia) por parte de grupos islâmicos mais conservadores, que dão ênfase ao pedido expresso na carta enviada por Wayan Koster.
«Após o encontro de hoje entre o presidente da FIFA, Gianni Infantino, e o presidente da federação da Indonésia (PSSI), Erik Thohir, a FIFA decidiu, tendo em conta as atuais circunstâncias, retirar a Indonésia como organizador do Mundial de sub-20 de 2023» foram as palavras proferidas num comunicado oficial do organismo, o que nos leva a crer que esta decisão baseou-se muito nas atuais circunstâncias entre os países.
É evidente que toda esta situação se encontra profundamente marcada por uma mistura entre política e futebol ou, neste caso em concreto, até mesmo o inverso – terá a FIFA decidido retirar à Indonésia a possibilidade de ser anfitriã neste grande evento por não querer misturar o futebol com questões políticas atuais?
Misturar política e futebol (ou qualquer outro desporto) é um assunto bastante controverso e que gera sempre bastantes opiniões, tendo essencialmente dois lados: aqueles que são a favor e aqueles que são contra.
De um lado temos aqueles que argumentam que o futebol e a política são dois conceitos que devem ser mantidos em separado, justificando o seu pensamento muito pelo facto do futebol ser uma atividade que deve unir pessoas de diferentes ideologias e origens em torno de um objetivo comum que se traduz na busca pela vitória dentro das regras estabelecidas. Deste lado temos aqueles que acreditam que a mistura entre ambos os conceitos pode ser prejudicial para o desporto, uma vez que acaba por dividir as equipas (e até mesmo os adeptos), gerando muitas vezes conflitos desnecessários.
Por outro lado, existem os indivíduos que defendem que o futebol não pode ser tido como algo radicalmente separado da realidade política e social do meio onde se encontra inserido. Estas pessoas defendem que o futebol, bem como as restantes modalidades desportivas, são um reflexo das tensões, desigualdades e conflitos que existem no dia a dia das sociedades, portanto acaba por ser quase inevitável que questões de cariz político não surjam nestes contextos. É também relevante mencionar que um dos argumentos mencionados é ao nível da economia, visto que eventos desportivos de média ou grande dimensão têm um impacto positivo gerado na economia do país anfitrião, algo que não pode ser totalmente separado da política.
Ao contrário das pessoas que defendem que a mistura da política e do futebol é prejudicial, este grupo considera que esta mistura pode ser vista como positiva, na medida em que pode levar a debates e discussões importantes sobre temas de questões políticas e sociais que de outra forma poderiam acabar por ser ignoradas, não lhe sendo dada a devida relevância que devem ter. Ao longo de toda a história surgem-nos vários exemplos de como as questões políticas e sociais interferiram com atividades desportivas. A título exemplificativo, o boicote desportivo a África do Sul durante o regime de Apartheid, no qual muitos países e organizações desportivas se recusaram a jogar contra a equipa sul-africana como forma de protesto contra o sistema de discriminação racial. De modo mais recente, o movimento Black Lives Matter também levou a que muitos jogadores e entidades desportivas se envolvessem na luta contra o racismo. Alguns jogadores também têm usado as suas redes sociais para chamar a atenção e alertar para questões políticas nos seus próprios países, como a corrupção e a falta de investimentos na saúde e na educação.
De modo conclusivo, podemos considerar que a relação entre política e futebol é um tema complexo e controverso. Enquanto alguns defendem que o desporto deve ser mantido livre de questões políticas, outros argumentam que o futebol é uma parte de integração fundamental da sociedade e, portanto, é inevitável que as questões políticas sejam discutidas em torno deste desporto. Importa salientar que esta mistura pode levar a conflitos e problemas, o que faz com que seja fundamental encontrar um equilíbrio entre a liberdade de expressão e a responsabilidade social, de modo a que se possa garantir um ambiente seguro e pacífico para todas as partes envolvidas.