As cidades chinesas de Pequim, Xangai e Wuhan, têm sido palco de protestos contra a política “Covid Zero”, implementada por Xi Jinping. Os manifestantes questionam o prolongamento das restrições, sendo o descontentamento social que se sente nas ruas fruto das rígidas políticas do governo aplicadas desde o começo da pandemia.
Os confinamentos drásticos provocaram consequências graves na vida dos cidadãos, sobretudo a nível económico, visto que o nível de vida da população diminuiu drasticamente. O governo de Xi Jinping justifica as medidas intransigentes com a densidade populacional do país e com os diferentes níveis de desenvolvimento entre regiões.
No Ocidente as campanhas de vacinação foram um veículo para o alívio das medidas relacionadas com a COVID-19. Contudo, na China, o cenário é bastante diferente porque, mesmo com o aparecimento da vacinação, o governo insistiu no confinamento total como forma de conter os cidadãos.
A campanha de vacinação não está a ser eficaz, uma vez que há uma grande dificuldade em alcançar todas as camadas da população. As vacinas utilizadas na China provaram ser menos eficazes, comparativamente às que são utilizadas na Europa ou nos Estados Unidos. A seleção de vacinas poderá ser baseada em questões políticas, podendo ser encarado como uma perda de poder e nível internacional.
Não havendo uma imunidade de grupo, o governo opta por medidas restritivas, como é o caso da mais recente “Covid Zero”. Estas políticas censuram a população. Devido a esta realidade, são os jovens que têm sido líderes das manifestações espalhadas um pouco por todo o país, afirmando que não tencionam desafiar o governo ou o presidente, mas sim contestar as medidas que, camufladas pelas políticas da “Covid Zero”, condicionam os direitos e as liberdades individuais. Os manifestantes exibem folhas brancas, uma alusão à censura exercida pelo regime, que elimina das redes sociais conteúdos suscetíveis de denegrir a sua imagem.
Os jovens universitários são provavelmente as maiores vítimas da COVID-19. Para além de se distanciarem das suas metas a nível pessoal e profissional, alguns, que têm de sair das suas cidades de origem para estudar, ficam por vários meses fechados em dormitórios e denunciam a escassez de bens de primeira necessidade, designadamente de produtos alimentares ou medicamentos. Os mais novos vêem-se obrigados a lutar por mais liberdade.
Após fortes pressões, o governo cedeu, aliviando as restrições. Porém, as autoridades mantêm-se atentas no sentido de evitar protestos e, em casos mais extremos, chegaram a deter pessoas que saíram à rua para se manifestarem. Deu- se, aparentemente, uma vitória da população que já não aguentava confinamentos, centros de quarentena e testes diários.
As excessivas restrições, em relação à política “Covid Zero”, devem-se à necessidade que o governo tem em controlar os cidadãos. A cultura de vigilância em ambiente público está a aumentar, sobretudo em regimes autoritários, como é o caso da China.
A questão não se resume à vigilância pública. O ambiente privado é igualmente explorado pelo poder político. No decurso do confinamento pela pandemia de Covid- 19 o governo chinês instalou câmeras de vigilância, sem prévio anúncio, à porta das pessoas que estavam a cumprir a quarentena obrigatória.
Para além das câmaras, o governo desenvolveu uma aplicação que contém um QR Code com uma determinada cor, conforme os sintomas que as pessoas registam. A cor verde serve para os que não precisam de se isolar, o amarelo indica quem deve cumprir 7 dias de isolamento e, por fim, o vermelho é para aqueles que têm de cumprir 14 dias de isolamento. A coberto de uma suposta estratégia de combate ao avanço da pandemia no país, o comportamento das autoridades levanta sérias preocupações éticas.
Estas medidas são claramente elucidativas das intenções das autoridades chinesas – controlar e abafar vozes anti-regime. O posicionamento do povo chinês pode ser visto como um possível teste à liderança de Xi Jinping e a longo prazo, o desafio passará por analisar as consequências políticas do alívio de restrições na China.
A pretexto de razões de segurança e proteção dos cidadãos, as autoridades têm vindo a implementar sistemas de vigilância em espaços públicos e meios de transporte, colocando a privacidade dos cidadãos em risco. O governo garante como finalidade principal a segurança dos cidadãos, não deixando, ainda assim, de ser preocupante o risco de atentado à liberdade individual.